A bela foto do romântico bonde aberto (dos dois lados) desperta minha nostalgia, de uma São Paulo de outrora. Aliás, outrora e tanto! Visto que sou paulistano do tempo em que também nasceu a CMTC: 1947!
Permita-me o História da Vila Diva de um comentário. Anônimo passageiro que fui dos bondes, que a CMTC herdou da São Paulo Light. Light, em cujas gigantescas oficinas da Lavapés meu pai foi operário por trinta e cinco anos – inclusive participando de reparos de bondes.
Contemporâneos de meus setenta, lembrarão: havia dois modelos – praticamente iguais, bondes abertos, menores um pouco que um maior, de treze fileiras de bancos transversais, paralelos, de madeira envernizada.
Ao contrário desse da foto – curioso lembrar – um outro tipo era o SEM parabrisas, fato que expunha o motorneiro – de cara livre ao vento – às agruras da intempérie. Um remanesce imaculado no Museu “da CMTC”, impecável!
Como é sabido, bondes esses introduzidos pela Light lá pelos anos 20, do século idem. Eram pois veteranos quando incorporaram o patrimônio da CMTC, originariamente em linhas de trilhos únicos, para ir e vir, com desvios de espera no trajeto. Lembro disso, por exemplo, na Capitão Pacheco e Chaves (linha 32) e na Rua Tangará (linha 47). Anos 50...
Há fotos que mostram, esses bondinhos traziam duas “frentes” iguais, com farol central. Cada frente tinha controles de comando, do motorneiro. Chegando o bonde ao ponto final, ali era que o motorneiro – ou o cobrador – mudava o letreiro; invertiam-se os encostos dos bancos, manualmente; mudava-se também o retentor da corda da alavanca de contato, que captava eletricidade do fio trólei... E o bonde voltava, pelos mesmos trilhos da ida.
Paulistanos veteranos lembrarão, como lembro eu. No começo dos anos 50, os então bondes abertos – todos, exceto o da foto e outro idêntico – tornaram-se fechados, do lado esquerdo, só.
E em 1955 os abertos maiores foram reformados e originaram um tipo de bonde fechado – como se um camarão – que – moleque, eu ouvia dizerem – chamavam de “Marta Rocha” (Miss Brasil da época, 1954), de tão bonitos que ficaram...
Então, restaram incólumes dois, exclusivos da linha Belém, que saía da Clóvis. De trecho de um trilho só (acho) desde a Rua Belém, até a Álvaro Ramos.
Lembro, até. Anos 70. Um jornal trazia a foto com legenda. Um desses dois, do Belém: “exportado” (dizia) para um certo museu americano – “exportado”...
Os outros bondes paulistanos? Hein? Ora... Três exceções povoam o Museu. O restante – um ou outro, “doado” por aí – os demais – como que sentenciados por uma Inquisição – restaram torturados, cortados ou serrados – queimados, no fogo do descaso para com a história paulistana. Grato pela atenção.
A bela foto do romântico bonde aberto (dos dois lados) desperta minha nostalgia, de uma São Paulo de outrora. Aliás, outrora e tanto! Visto que sou paulistano do tempo em que também nasceu a CMTC: 1947!
ResponderExcluirPermita-me o História da Vila Diva de um comentário. Anônimo passageiro que fui dos bondes, que a CMTC herdou da São Paulo Light. Light, em cujas gigantescas oficinas da Lavapés meu pai foi operário por trinta e cinco anos – inclusive participando de reparos de bondes.
Contemporâneos de meus setenta, lembrarão: havia dois modelos – praticamente iguais, bondes abertos, menores um pouco que um maior, de treze fileiras de bancos transversais, paralelos, de madeira envernizada.
Ao contrário desse da foto – curioso lembrar – um outro tipo era o SEM parabrisas, fato que expunha o motorneiro – de cara livre ao vento – às agruras da intempérie. Um remanesce imaculado no Museu “da CMTC”, impecável!
Como é sabido, bondes esses introduzidos pela Light lá pelos anos 20, do século idem. Eram pois veteranos quando incorporaram o patrimônio da CMTC, originariamente em linhas de trilhos únicos, para ir e vir, com desvios de espera no trajeto. Lembro disso, por exemplo, na Capitão Pacheco e Chaves (linha 32) e na Rua Tangará (linha 47). Anos 50...
Há fotos que mostram, esses bondinhos traziam duas “frentes” iguais, com farol central. Cada frente tinha controles de comando, do motorneiro. Chegando o bonde ao ponto final, ali era que o motorneiro – ou o cobrador – mudava o letreiro; invertiam-se os encostos dos bancos, manualmente; mudava-se também o retentor da corda da alavanca de contato, que captava eletricidade do fio trólei... E o bonde voltava, pelos mesmos trilhos da ida.
Paulistanos veteranos lembrarão, como lembro eu. No começo dos anos 50, os então bondes abertos – todos, exceto o da foto e outro idêntico – tornaram-se fechados, do lado esquerdo, só.
E em 1955 os abertos maiores foram reformados e originaram um tipo de bonde fechado – como se um camarão – que – moleque, eu ouvia dizerem – chamavam de “Marta Rocha” (Miss Brasil da época, 1954), de tão bonitos que ficaram...
Então, restaram incólumes dois, exclusivos da linha Belém, que saía da Clóvis. De trecho de um trilho só (acho) desde a Rua Belém, até a Álvaro Ramos.
Lembro, até. Anos 70. Um jornal trazia a foto com legenda. Um desses dois, do Belém: “exportado” (dizia) para um certo museu americano – “exportado”...
Os outros bondes paulistanos? Hein? Ora... Três exceções povoam o Museu. O restante – um ou outro, “doado” por aí – os demais – como que sentenciados por uma Inquisição – restaram torturados, cortados ou serrados – queimados, no fogo do descaso para com a história paulistana. Grato pela atenção.
Rubens Cano de Medeiros
São Paulo
obrigado pelo relato.
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